A mobilidade urbana é um dos temas urgentes no Distrito Federal. Basta percorrer as principais vias num fim de tarde para constatar: mesmo expressas e largas, como o Eixão e o Eixo Monumental, ficam abarrotadas de carros a velocidade média inferior a 20km/h. Os ônibus superlotados também se sujeitam à lentidão. Afinal, não há nenhuma prioridade (corredor de ônibus) nos dois eixos viários que cruzam a capital federal.
Em 2008, a frota motorizada registrada no DF alcançava 1 milhão. Lembro bem do seminário promovido pelo Departamento de Trânsito (Detran/DF) naquele ano para debater problemas e soluções para a grande quantidade de carros. Uma década depois, a frota se aproxima de 2 milhões. O órgão de trânsito realizará outro seminário? Os velhos problemas serão debatidos e novas promessas serão anunciadas?
A solução para o caos automotivo é bem conhecida e foi adotada em cidades modernas há décadas: investimento no transporte coletivo integrado à mobilidade ativa e desestímulo ao uso do carro,e aumentar o uso dos Taxis e carros por aplicativos especialmente na área central. As leis refletem a mobilidade moderna e estabelecem a prioridade dos modos ativos e coletivos de transporte, a exemplo da Política Nacional de Mobilidade Urbana e do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU/DF). Mas a realidade das ruas é oposta à legislação.
Os seguidos governos insistem na velha lógica rodoviarista de ampliar vias e construir túneis e viadutos. Além do alto custo de construção e manutenção (este nem sempre é incluído na fatura), as novas pistas incentivam mais pessoas a usarem o carro no dia a dia. A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (2018) revelou que 47% dos deslocamentos são feitos por transporte individual motorizado, índice altíssimo em relação a outras capitais do país. Construir mais pistas para solucionar os congestionamentos é como afrouxar o cinto para resolver a obesidade.
A Rodoviária do Plano Piloto, por onde circulam cerca de 700 mil pessoas por dia, simboliza o descaso com a acessibilidade e a mobilidade. Passar entre as plataformas do principal terminal de transporte requer vigor físico; afinal, as escadas rolantes e os elevadores desativados são velhos conhecidos. As calçadas destruídas e a falta de rampas de acesso em volta do terminal obrigam cadeirantes a disputarem espaço na pista, entre carros e ônibus. Para os ciclistas, o desafio também é grande: o bicicletário foi desativado e as ciclofaixas estão apagadas e ocupadas por táxis e ônibus.
Basta ver a área central com pistas, estacionamentos, canteiros e calçadas repletos de carros para constatar que o modelo está equivocado. Não cabem tantos carros.
Por que não investir em linhas de VLT, corredores de ônibus e taxis, calçadas e ciclovias conectadas? Em vez de gastar recursos em projetos antiquados de viadutos, bons projetos de mobilidade deveriam ser priorizados. Haveria muitos benefícios na mobilidade, saúde, economia, turismo e vitalidade urbana. Uma Esplanada dos Ministérios com calçadas acessíveis, conectada por ônibus elétricos e com menos carros seria um bom começo.
Brasília poderia e deveria ser exemplo para as outras cidades, uma vitrine do transporte acessível e sustentável. Mas as mudanças dependem de vontade política para modernizar e inovar. O GDF e precisa decidir: insistir no velho modelo e contribuir com o colapso das vias, ou investir em mobilidade e qualidade de vida.
SUED SILVIO É PRESIDENTE DO SINPETAXI-DF